Localizada no município de Balneário Camboriú - SC, a cerca
de 80 km de Florianópolis, a Praia do Pinho é considerada a primeira
praia de naturismo oficial do Brasil. Além disso, também é reconhecida
por suas belezas naturais e pela filosofia de vida dos seus
freqüentadores.
Com seus 500 metros de extensão, a área é formada
por areias claras de espessura média, possui mar com ondas fortes e de
água límpida e é envolta por costões e montanhas com uma vegetação quase
intocada, o que garante total privacidade, proporcionando os primeiros
indícios da prática do nudismo neste local, em meados de 1983. Na
ocasião, algumas dançarinas de uma famosa casa de shows da cidade
“Mario’s House” e outros poucos casais se aventuravam a despir-se em
meio a esta praia tão paradisíaca, na época deserta, rodeada pela
exuberante mata atlântica e de difícil acesso. Neste período, a prática
do Naturismo não era bem vista pelo proprietário das terras em frente à
praia: Domingos Fonseca, um empresário pai de 7 filhos, também muito
religioso e por muitas vezes reprimia os naturistas que lá estavam
chegando até a expulsá-los.
A Praia do Pinho ganhou notoriedade
nacional através da reportagem de Tarlis Batista, publicada na extinta
Revista Manchete, de 25 de fevereiro de 1984, com o título “TODO MUNDO
NU EM CAMBORIÚ”. Em sua reportagem Tarlis contou: “algumas praias
sofisticadas, como Ipanema, arriscam o seu “topless” de vez em quando.
Mas a nudez explicita e total que já chegou ao Brasil, embora muitos
ainda não saibam é privilégio de uma praia do tradicionalmente recatado
sul: Camboriú, Santa Catarina. Alguns dizem que tudo começou por
influências dos argentinos, que há muitos anos invadem Camboriú durante
as férias. Seja qual for a razão, o campo de naturalismo do balneário
catarinense é o primeiro e único no gênero em nosso país.”
Ele
ainda disse em uma reportagem em 1988: “...o nudismo na Praia do Pinho
acontecia num clima de clandestinidade, onde os pioneiros desfrutavam
dos prazeres da natureza na bela e quase indevassável praia, porém a
tranqüilidade acabou depois da publicação em 1984 de uma reportagem
sobre a descoberta deste campo nudista que colocou a praia em evidência
no país todo.”
Após a grande repercussão de âmbito nacional desta
matéria, e do enorme número de curiosos que vinham até a praia,
Domingos Fonseca, incentivado por alguns naturistas e visualizando uma
grande oportunidade de negócio, parou de perseguir os naturistas e
iniciou a construção de uma pousada e um restaurante no local.
No
verão de 1985, o número de naturistas na praia tinha aumentado
consideravelmente. Se antigamente não superava a casa dos trinta, na
ocasião já eram não menos que duzentas pessoas. Contudo, aumentava
também o número de curiosos que vinham de todas as partes do Brasil para
conhecer o único local onde era praticada a nudez em público.
A reportagem de Tarlis dividiu as opiniões de políticos locais,
representantes da comunidade e freqüentadores da praia. Por um lado, a
matéria lançou a cidade como um destino turístico de âmbito nacional, o
que sempre foi a vontade dos políticos como Osmar Nunes Filho, o
Secretário de Turismo da época. Nunes dizia: “Desde que não prejudique
os bons costumes, que seja praticado num lugar reservado, para que não
venha a agredir outras pessoas, a pratica do Naturalismo só beneficiará o
Balneário em nível de divulgação nacional, pois é algo fora do comum no
Brasil”. Já o vereador Rúdis Cabral, do PDS, enviou um oficio à
delegacia de polícia da cidade solicitando providências no sentido de
coibir os atos vergonhosos que estavam sendo praticados na Praia do
Pinho, mesmo que se prendesse as pessoas que praticavam o nudismo
naquele recanto.
Em
1986, uma ação conjunta entre as Polícias Militar e Civil prendeu 25
pessoas que praticavam o nudismo na Praia do Pinho. Ao saber do
ocorrido, Osmar Nunes Filho definiu o fato como lamentável dizendo: “A
sociedade está em permanente evolução. Se as pessoas não praticam o
nudismo, que aceitem e respeitem este comportamento”. Já os jornais da
região, como o Jornal de Santa Catarina, noticiavam o ocorrido com
manchetes como “Nudistas são presos. Assaltos continuam” fazendo uma
dura crítica às autoridades. Nunes dizia ainda em sua entrevista ao
Jornal de Santa Catarina: “Foi criada uma estrutura na Praia do Pinho,
em função do naturismo. Vai quem quer. Enquanto isso, as autoridades não
têm visto coisas piores que acontecem na praia central de Balneário
Camboriú, onde crianças e adultos são obrigados a assistir”.
Foi
então que, neste mesmo ano de 1986, os naturistas se uniram. Liderados
pelo gaúcho Celso Rossi e outros idealistas como Rose Espíndola e Sergio
Oliveira lutaram pelo reconhecimento da Praia do Pinho como área
oficial para a prática do naturismo e fundaram a AAPP – Associação
Amigos da Praia do Pinho. A entidade tinha como integrantes quase todos
aqueles naturistas que haviam sido presos. Motivados a não abrir mão de
seu paraíso, começaram a praticar o naturismo de uma forma organizada,
implantando o código de ética e fiscalizando as atitudes dos
freqüentadores.
A intenção dos membros da AAPP foi de estabelecer
uma área de uso comum aos adeptos do naturismo que vinham de diversas
partes do Brasil movidos pelo desejo de compartilhar sua filosofia de
vida em um espaço onde pudessem desfrutar das belezas naturais da praia
com conforto, privacidade, liberdade e principalmente respeito.
Ao
longo dos anos, a AAPP desempenhou as atividades de controle,
fiscalização das regras estabelecidas por ela e também a recepção de
novos naturistas nas areias da praia. Porém, em 2005, os diretores da
Associação decidiram apenas controlar o condomínio naturista onde se
encontra a sua sede, “Paraíso da Tartaruga”, localizado em uma área nas
proximidades do Pinho. Com isto, em janeiro de 2006, foi criada a ONG
Naturistas Praia do Pinho, com o intuito de garantir e zelar a prática
do naturismo na beira da praia, além de manter e preservar o seu
eco-sistema.
Desde dezembro de 2004, as atividades comercias da
Praia do Pinho são exercidas pelo Complexo Turístico Praia do Pinho
LTDA. Sua infraestrutura atual é uma das melhores do país e compreende
pousadas, chalés, cabanas, bares, excelente área para camping, com
capacidade para 200 barracas e um amplo estacionamento para os
visitantes.
Fonte:
ROSSI, Celso. Naturismo: a redescoberta do homem.
2.ed. Porto Alegre: Magister, 2007.
http://praiadopinho.com.br
http://www.aappinho.com